sexta-feira, 9 de março de 2012

A beterraba centrifugada e o desapego

As relações entre o budismo e os registros fotográficos foram o tema do meu trabalho de conclusão da pós-graduação em Poéticas Visuais, em 2005.
De certa forma, aquele projeto sempre volta, procurando novos caminhos, novas possibilidades.
Esta imagem é a reprodução de uma foto que fiz no templo Odsai Ling, em Cotia-SP, em 2011.
Os únicos dois templos de budismo tibetano vajrayana do Brasil ficam próximos de locais onde eu morei. Um no Rio Grande do Sul, outro em São Paulo. Ambos me inspiram muito sempre que os frequento e, por esta razão, fotografo muito cada detalhe, quase que compulsivamente.
O papel usado para este antotype foi pincelado com beterraba centrifugada. Paciência budista foi necessária, porque foram dez pinceladas e, a cada uma delas, era preciso esperar que a "tinta" secasse, para recomeçar. Depois disso e alguns dias na gaveta, o papel e a imagem impressa disposta sobre ele ficaram expostos ao sol por 15 dias. Agora, pretendo exercitar o desapego, colocando a imagem novamente no sol, para que desapareça.

domingo, 4 de março de 2012

A minha caixinha

Hoje abri outro antotype feito com fotos daquela mesma borboleta. O papel foi pincelado com amora três vezes. Esmaguei amoras que já tinham passado do ponto, tirei as sementinhas e pincelei o papel uma vez. Pendurei para secar e repeti o processo duas vezes, até acabar a “tinta”. O papel ficou uns dois meses na gaveta, esperando por uma foto, uma inspiração. Depois, passou esta semana tomando sol em cima do telhado.

Fiquei feliz com o resultado mas, principalmente, por ter voltado a me dedicar aos antotypes. Digo que eles são a minha caixa do nada, como no vídeo que faz sucesso na internet onde o comediante Mark Gungor compara os cérebros feminino e masculino:




De fato, tenho pensamentos como um novelo, uma coisa levando a outra o tempo inteiro, como ele descreve o cérebro feminino. No entanto, quando comecei a produzir antotypes, no ano passado, foi como se encontrasse no meio da confusão a minha caixa de fazer nada, que ele descreve como um privilégio do cérebro masculino.
É claro que quando estou trabalhando neles, produzindo as tintas, pincelando os papéis, fotografando, imprimindo as lâminas... estou sempre fazendo alguma coisa. No entanto, é uma atividade onde consigo me desplugar do novelo cerebral... deixar de pensar em contas, compromissos, problemas, planos... naquele momento só quero conseguir belas imagens.
Em suma, eu entro na minha caixinha, aquela só minha. Saio, então, daquelas outras, iguaizinhas, como a Nara Leão canta lindamente em uma versão tupiniquim da música Little Boxes:

quinta-feira, 1 de março de 2012

E a borboleta virou antotype

No ano passado, fiz um curso de Processos fotográficos históricos do século XIX, com a fotógrafa Beth Lee. Foi uma experiência catársica e desde então me aventuro com produções caseiras de antotypes, por ser um processo fotográfico que dispensa o uso de químicos e pode mesmo dispensar o papel.
O mais divertido é quando o processo de reproduzir imagens nas folhas dá resultados incríveis como o que aconteceu com a foto da borboleta que esteve aqui por esses dias. Tem outro antotype em produção, com a mesma foto em maiores dimensões sendo reproduzida em uma folha de papel aquarela pintada com suco de amora. O sol está fazendo seu trabalho e já que ele tem aparecido com força, nos próximos dias devo publicar o resultado aqui.

Aos interessados em processos fotográficos históricos, um novo curso com a mesma professora vai começar este mês, no Sesc Pompeia. As informações estão disponíveis no blog da Beth Lee.